Copom eleva Selic para 14,25% ao ano, maior patamar desde 2016

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Brasília – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou, nesta quarta-feira (19), um novo aumento na taxa básica de juros, elevando a Selic em 1 ponto percentual, para 14,25% ao ano. O patamar, o mais alto desde a crise econômica de 2016, reflete a postura firme da autoridade monetária diante da persistência inflacionária e do cenário fiscal desafiador.

A decisão já era amplamente esperada pelos agentes do mercado, que monitoravam as sinalizações do Banco Central sobre a condução da política monetária. No comunicado oficial, o Copom justificou a elevação como necessária para garantir a convergência da inflação à meta e sinalizou que novas altas podem ocorrer caso os preços continuem pressionados.

Inflação resistente e os desafios da política monetária

O principal fator para a decisão do Copom é a inflação ainda acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência oficial do país, acumula alta de 5,06% nos últimos 12 meses, superando o objetivo central de 3,5%.

Os núcleos da inflação, que excluem itens mais voláteis como alimentos e combustíveis, também seguem elevados, o que reforça a preocupação do Banco Central com a disseminação dos aumentos de preços por diferentes setores da economia. Serviços, por exemplo, continuam apresentando reajustes expressivos, refletindo o impacto da recuperação do mercado de trabalho e da demanda interna.

Para Arthur Carvalho, economista-chefe da Ativa Investimentos, a decisão do Copom reforça o compromisso da instituição com o combate à inflação, mesmo que isso signifique impactos adversos para o crescimento econômico. “O Banco Central tem sido claro ao afirmar que a prioridade, no momento, é conter a inflação e evitar um descontrole das expectativas. A taxa de juros elevada é um remédio amargo, mas necessário”, avalia.

Impacto nos mercados e na economia real

O novo patamar da Selic tem repercussões diretas na economia. Juros mais altos encarecem o crédito para empresas e consumidores, o que tende a reduzir investimentos e consumo, impactando negativamente a atividade econômica.

No mercado financeiro, a reação foi imediata. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, encerrou o pregão em queda de 1,7%, refletindo a preocupação dos investidores com os efeitos do aperto monetário sobre o crescimento do país. O dólar, por sua vez, subiu 0,9%, cotado a R$ 5,12, diante do aumento da aversão ao risco.

Setores como comércio e indústria já demonstram apreensão com o novo cenário. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nota afirmando que a alta dos juros pode comprometer a retomada da produção e do emprego, agravando as dificuldades enfrentadas pelo setor. “Com uma Selic nesse patamar, muitas empresas terão dificuldades em financiar seus negócios e expandir suas atividades”, alerta a entidade.

Por outro lado, o ambiente de juros elevados tende a favorecer investimentos em renda fixa, como títulos do Tesouro Direto e CDBs, que passam a oferecer retornos mais atrativos. Essa dinâmica pode contribuir para a valorização do real no médio prazo e ajudar na contenção da inflação.

Perspectivas para os próximos meses

A decisão do Copom ocorre em um contexto de incertezas sobre o cenário fiscal. O governo federal tem buscado equilibrar as contas públicas e cumprir a meta de resultado primário, mas ainda há dúvidas sobre a capacidade de atingir os objetivos estabelecidos. A política monetária, portanto, segue condicionada à evolução do quadro fiscal e ao comportamento das expectativas inflacionárias.

No comunicado divulgado após a reunião, o Banco Central enfatizou que a manutenção da estabilidade macroeconômica depende de um compromisso firme com o controle dos gastos públicos. “O Copom reforça que a política fiscal tem papel fundamental na ancoragem das expectativas e na credibilidade da política monetária”, destacou o documento.

Para os próximos meses, analistas do mercado avaliam que o ciclo de alta dos juros pode continuar, caso a inflação não mostre sinais mais claros de desaceleração. Alguns economistas já projetam uma nova elevação da Selic na próxima reunião, em maio, possivelmente de 0,50 ponto percentual.

Com a economia operando sob juros elevados e a inflação ainda pressionada, a política monetária seguirá no centro do debate econômico, influenciando as decisões de investidores, empresários e consumidores nos próximos meses.

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