Sinalização de dirigentes brasileiros reflete insatisfação com punições brandas a casos de racismo e pode impactar futebol sul-americano.
A recente manifestação da presidente do Palmeiras, Leila Pereira, sobre uma possível mudança dos clubes brasileiros para a Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (Concacaf) levantou um debate sobre o futuro das equipes do Brasil em competições internacionais. A fala ocorre em meio à insatisfação com as medidas adotadas pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) em relação a casos de racismo e tratamento diferenciado às equipes brasileiras.
Contexto e insatisfação com a Conmebol
O estopim para o debate foi um episódio ocorrido durante a Copa Libertadores Sub-20, no qual o jogador Luighi, do Palmeiras, foi alvo de atos racistas por torcedores do Cerro Porteño, do Paraguai. A Conmebol puniu o clube paraguaio com uma multa de US$ 50 mil e uma partida com portões fechados, sanções consideradas brandas por dirigentes brasileiros.
Diante disso, Leila Pereira questionou publicamente a permanência dos clubes brasileiros na Conmebol. “Se não somos tratados com o devido respeito e se o racismo não é combatido com a seriedade necessária, por que não podemos nos filiar à Concacaf?”, declarou a dirigente em entrevista à TNT Sports.
É possível uma mudança para a Concacaf?
Para que a migração ocorra, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) precisaria deixar de integrar a Conmebol e formalizar um pedido de filiação à Concacaf. O estatuto da entidade sul-americana permite a desfiliação, mas exige aviso prévio de seis meses e a quitação de obrigações pendentes. Além disso, a FIFA teria que aprovar a mudança, uma vez que cada federação nacional deve estar vinculada a apenas uma confederação.
O estatuto da Concacaf, por outro lado, permite a admissão de federações externas à sua região geográfica, desde que haja alinhamento com seus regulamentos. No entanto, historicamente, a FIFA tem sido relutante em permitir mudanças de confederação por razões políticas ou esportivas.
Impactos de uma eventual mudança
Uma possível migração dos clubes brasileiros para a Concacaf teria amplas repercussões no cenário do futebol. Do ponto de vista econômico, a Conmebol perderia boa parte da sua atratividade comercial e receitas provenientes de direitos de transmissão, já que os times brasileiros representam um dos maiores mercados do continente.
Por outro lado, os clubes brasileiros passariam a disputar torneios como a Liga dos Campeões da Concacaf, enfrentando adversários com nível técnico inferior ao da Libertadores, o que poderia impactar o desenvolvimento do futebol nacional. Além disso, a logística seria um desafio, com deslocamentos mais longos para jogos nos Estados Unidos, México e Canadá.
Especialistas avaliam que a mudança, embora improvável, serve como um alerta à Conmebol. “A insatisfação dos clubes brasileiros pode pressionar a entidade a adotar medidas mais rígidas contra o racismo e a revisar sua relação com as equipes do Brasil”, afirma um executivo do setor esportivo.
Próximos passos
Apesar do debate, ainda não há um movimento formal por parte da CBF ou dos clubes brasileiros para deixar a Conmebol. No entanto, a insatisfação crescente pode resultar em uma cobrança mais intensa por mudanças dentro da entidade sul-americana.
O episódio reforça a necessidade de ações mais efetivas da Conmebol para combater o racismo e garantir um tratamento equitativo às equipes brasileiras, evitando um possível esvaziamento das competições continentais.